A gigante devoradora de pequenas empresas, fabricante de enlatados sem graça e destruidora de sonhos, Eletronic Arts, a EA, foi eleita, pela segunda vez consecutiva, como a pior empresa da América – ganhando o prêmio “Golden Poo” (literalmente “Cocô Dourado”. Para esse “feito” a empresa venceu, em um pool votado via internet empresas como o Bank of America, Ticketmaster, Carnival Cruise Lines, Anheiser-Busch InBev, Facebook, AT&T, Walmart, Best Buy, American Airlines, PayPal e TODOS os provedores de Internet, telefonia e TV a Cabo americanos.
Nada mal EA… nada mal mesmo! ^_^
Segundo o editor da Consumerist’s, publicação que criou o prêmio, Chris Morran, “Depois de ser coroada como a pior companhia na América no ano passado, era esperado que a Electronic Arts entendesse a mensagem: Pare de tratar seus consumidores como cofrinhos e não coloque no mercado jogos incompletos e quebrados apenas para fazer esses mesmos consumidores pagarem extra pelo que já deviam ter recebido de cara.”
De frente a essas reclamações o senhor Peter “Eu sou um imbecil” Moore, COO da EA (Chief Operating Officer) soltou ao vento uma pergunta que eu mesmo me faço: “As árvores mais altas são as que pegam mais vento. Se somos assim tão ruins porque vendemos mais games a cada ano?”.
Verdade! Se sabemos que a EA é uma merda, dourada ou não, porque continuamos consumindo os produtos dela, cada vez em maior número? E se não consumimos, porque consideramos a empresa uma merda? E porque a Valve não explode de vender, se é considerada uma empresa excelente?
Afinal… o que faz a EA ser tão odiada?
Vamos por partes…

Eu amo todos eles EA… não os toque!
Tranquilizando Acionistas
“É uma besteira a seleção da Consumerist. E a mesma seleção que ano passado nos considerou piores que a empresa responsável pelo maior derramamento de óleo da história.” disse Moore, relativo a produtora de óleo Champ BP, que perdeu o “prêmio” para a EA no ano passado (e não foi “eleita” para participar neste ano). Mas como funciona essa seleção?
A consumerist’s pega as empresas americanas com maior número de queixas nos maiores sites de atendimento ao consumidor assim como nos órgãos de proteção ao consumidor. Essa seleção é então colocada a disposição do público para votação no site deles e, como dizem, a voz do povo é a voz de Deus.
“Ganhar esse prêmio é uma forma dos seus consumidores te mandarem uma mensagem. Que eles não estão contentes com você, que você os desapontou e que, você merece um enorme troféu de plástico em formato de cocô.” disse Chris Morran. Peter Moore respondeu apenas que “No ano passado as pessoas estavam bravas com o final de Mass Effect 3 e nossa posição em relação ao SOPA. Neste ano foi a SOPA, de novo, e nossos problemas com Sim City.” evadindo-se totalmente da culpa.
Hora de um reality check
A questão é que a posição da EA, relativa a Mass Effect 3, SOPA ou Sim City, é errônea. Na verdade a posição de ódio, quase mítica, que a empresa vem adquirindo ao longo dos anos parece fluir de:
Constantes compras de empresas bem sucedidas menores, com a intenção de “mineirar” as melhores franquias – normalmente destruindo-as;
A retenção das principais marcas de esportes do mercado, criando um monopólio de controle que, a grosso modo, acaba sustentando a política de preço atual de software que é empurrada, goela abaixo, no mercado inteiro, pela EA;
A relação altamente tóxica e destrutiva da EA com as microtransações;
Dentro do primeiro item podemos colocar as constantes interferências sofridas pela Bioware na produção de Mass Effect 2 e Dragon Age 2, que resultaram em games muito inferiores aos primeiros, e a atrocidade que foi Mass Effect 3, muito mais voltado para a ação e para o público casual, quase não retendo nada da fórmula do game original – graças a necessidade da EA de ganhar ainda mais dinheiro com a franquia. A posição, vergonhosa da gigante em relação a Pandemic, literalmente trancando os funcionários para fora da empresa de um dia para o outro, antes mesmo da demissão dos mesmos, para evitar roubo de código fonte e lançando “Le Saboteur” antes do jogo estar completamente testado e debugado também não ajuda em nada e o fechamento de diversos estúdios após a compra, claramente voltada para a aquisição hostil de propriedade intelectual dos mesmos.
Dentro do segundo item há vozes muito muito fortes, como a Nintendo, a Valve, a Blizzard e a própria Microsoft, contra a política de preço atual do mercado de games; “Os games simplesmente ficaram caros demais. A linha da própria Microsoft é lançado em um preço de mercado mais acessível e temos tido ótimos resultados com ele.” afirmou o porta voz principal da Microsoft para assuntos relacionados ao XBOX, Major Nelson – “O problema é sempre de percepção de qualidade. Quando um jogo é precificado abaixo dos US$ 60,00, no lançamento, sem uma pesada campanha de marketing por trás dele, ele é percebido como um produto inferior, mesmo que a produtora saiba que aquele preço não era necessário. Tornou-se a normalidade.”concluiu Nelson. Até 2005, no começo da atual geração, a EA não tinha tanta força de mercado para forçar o preço do mercado, mas com marcas como Dead Space, Fifa, Mass Effect e a distribuição, para a Sony, dos jogos Valve, a empresa tem todo o peso que precisa agora.
O que nos leva ao terceiro ponto, a relação horrível da EA, através de seus produtos, com o mundo das microtransações. Afinal a empresa não lança um produto completo, que ela torna mais acessível ou diferenciado através da venda de DLCs e expansões e sim produtos incompletos, quebrados ou mal-balanceados, que ela então libera melhorias, patchs e balanceamentos dentro de DLCs pagos. Isso é inadmissível! E a conduta de “pague para ganhar”, com vantagens absurdas dadas a quem pagar com dinheiro real por elas – sem suor nenhum é um desrespeito a todos que estão tentando conquistar o jogo normalmente. E não me entendam mal, sou completamente a favor de maneiras de tornar a experiência mais acessível: A Valve utiliza algoritmos de rede neural que regulam a dificuldade do jogo conforme sua habilidade nele, a Nintendo utiliza seu “super guide” de forma a auxiliar jogadores travados, entre outras tentativas. Mas ninguém deveria ter que pagar por isso! Em nenhuma situação!
E a EA nem mesmo faz segredo de seus enormes lucros com as microtransações, “Nosso modelo de negócio vem se tornando dependente das microtransações. Nos melhoramos games e jogadores.” soltou Moore. Se fosse feito do jeito correto, Ok! Mas do jeito que a EA faz você recebe coisas que deveriam estar dentro do seu já, imensamente, caro game de US$ 60,00.
Mas o pior é que Moore acha que a culpa não é da EA.
Jogando a culpa nos outros!
“Eu serei o primeiro a admitir que temos muitos problemas. Eles vão de servidores desligados muito cedo a jogos que não atingiram as expectativas, erros no modelo de precificação e, mais recentemente, os graves e diversos problemas com Sim City. Nós devemos aos jogadores uma performance melhor do que isso.” . Quando o COO Peter Moore soltou essa frase eu, do fundo do coração, achei que a EA tinha aprendido a lição. Ele iria se demitir, um novo COO e CEO viria, e o mundo melhoraria. Não foi o que aconteceu. O que houve foi uma tentativa patética de jogar a culpa da situação nas costas de outras pessoas. Começando com Sim City.
“Muitos jogadores acham que Sim City ser always-on é parte de um elaborado sistema de gerenciamento de propriedade intelectual digital (GPID – ou DRM em inglês, de Digital Rights Management). Não é. Mas as pessoas continuam insistindo e nós não temos como ser mais claros – não é. É parte integrante de como o jogo foi criado. Ponto final” afirmou Moore. Mas, peraí… EXISTE uma forma simples e direta de ser mais claro: Desative a função. Torne o online opcional. As pessoas vão ouvir… e vão apreciar! Pare de pensar que somos todos ladrões que querem roubar seu game!
De forma a desacreditar o conceito de pior empresa da América do ano, Moore atacou outras áreas “Nós vimos listas e mais listas pedindo que as pessoas votassem na EA como a pior empresa da América meramente porque não concordavam com a nossa escola de atleta para a capa de Madden NFL. O mesmo ocorreu com FIFA” e “No ano passado recebemos milhares de e-mails e cartas protestando contra a posição da Ea de permitir aos jogadores criarem e jogarem com personagens GLTS em nossos games (GLTS – Gays, Lésbicas, Transexuais e simpatizantes). Na semana que antecedeu a votação da Consumerist nós vimos centenas de sites fundamentalistas e religiosos pedindo as pessoas que votassem na EA como pior empresa da América, simplesmente porque nós permitíamos personagens GLTS.”. Certamente uma empresa que defende a existência de personagens virtuais GLTS não pode ser assim tão ruim, né?
Infelizmente os conceitos colocados pelo Sr. Moore são mentiras. Deslavadas, inclusive. A Consumerist verificou a origem do fluxo, caso links tenham sido utilizados, para averiguar a origem dos votos dados e não localizou um ÚNICO VOTO advindo de qualquer site que tenha atacado o posicionamento da EA em relação a GLTS ou os atletas da capa de qualquer game. Pior: Uma pesquisa da Kotaku não localizou sequer um local, em qualquer site ou forum de grande porte, voltado a esportes ou videogames, que tenha menção da EA ser votada como pior empresa da América por causa do atleta de capa de um NFL, FIFA ou qualquer outro game.
Sim EA, você merece a posição de pior empresa da América por uma série, imensa, de ações que vem minando o mercado que eu amo e respeito. Você é um Michael Bay dos games, um Steve Jobs (imbecil, controlador, louco, desmiolado com um penache por grandeza) dos games. E o mercado estaria melhor sem você. Mas não aceitem a minha opinião, não. Vamos ver o que pensam outros analistas pelo mundo:
Paladriver, da Joystick
“I don’t dislike EA because they are pro-LGBT. In fact I am supporter of LGBT rights. I dislike EA because they have a long standing history of anti-consumer practices. Not liking EA does not make me anti-LGBT, it makes me anti-EA.” (Eu não deixo de gostar da EA por ela ser pró GLTS. De fato eu apoio de coração os direitos de GLTS. Eu não gosto da EA pela longa história de práticas anti-consumidor que ela tem. Não gostar da EA não me faz anti GLTS, me faz anti EA).
GoodNewsJimDotCom, da Slashdot
“I think it is pretty sinister for him to dredge up “US vs THEM” protesting in his “apology.” Remember, one thing EA does is to hire fake protestors to get controversy for their game! Stay classy EA. Even in your apologies, you ooze evil.” (Eu acho muito sinistro para ele (Peter Moore) utilizar o adágio do “Nós contra eles” protestando em sua “desculpa”. Só para lembrar a EA já contratou protestadores falsos só para criar controvérsia sobre um game! Mantenha a Classe EA. Mesmo em suas desculpas você vaza maldade!”
E… meu mestre e grande inspiração Ben “Yahtzee” Croshaw, da Escapist
“NO EA! You do not get to Spin the story and take the Moral high ground on this shit! Don’t try to fool people by lumping these intolerant assholes with the people actually making legitimate complaints against your practices. You don’t get to try to make yourself look progressive like that.” (Não EA! Você não vai girar essa história e sair com em condições vantajosas morais desta merda! Não nos faça de tolos combinando em um mesmo lugar pessoas com reclamações reais de suas práticas e esses cuzões ignorantes. VocÇe não vai conseguir se fazer parecer progressiva assim.)

E no final, ainda sem respeito
Videogame é uma indústria multibilionária que atrai alguns dos maiores nomes do mundo na área de entretenimento, música e esportes, mas é tratada, tanto pela mídia como pelo mundo dos negócios como um reduto de perdedores. Companhias como a EA estão mais do que felizes em alimentar o mundo com a imagem de que o gamer “médio” é um reclamão, perdedor, sem meios de sustento e sem vida social que vai a internet reclamar de qualquer coisa, na tentativa de esconder os erros de seus próprios produtos, métodos e precificação.
E aqui vai a pergunta do Mini para você, Peter Moore: Se a sua empresa está engajada na produção de algo que é tão trivial que está acima até mesmo do descrédito dado por um troféu plástico em forma de cocô, porque você continua nela?