Para se entender as comparações constantes (e as críticas pesadas) feitas ao novo jogo do Morcego, Batman: Arkham Origins, é preciso entender aonde o “Arkhamverse” começou… lá em 2009.
Review publicado originalmente na POP Jogos, do Terra, em 2009 – foi escrito por mim mesmo… é que naquela época o Mini só cobria Nintendo!

Eu queria fazer um Podcast deste review e muito provavelmente vou fazer, mas como eu acabei de terminar o game a 15 minutos atrás e assistir um final que basicamente garante uma continuação para o SEGUNDO melhor jogo do XBOX 360, eu quero que vocês finjam que eu estou aí com vocês, gritando muito alto e de forma muito muito muito fanboy:
CARALHO MEU, CARALHO MEU, PUTA MEU QUE CARALHO ESSE JOGO CARA, PUTA EU NÃO IMAGINEI, PUTA MEU, QUE DO CARALHO, ESSE JOGO É TUDO MEU, TUDO TUDO TUDO… CARALHO PUTA, VOU COMEÇAR ESSE JOGO DE NOVO AGORA MEU, PUTA EU POSSO CONTINUAR, PUTA….
… e assim eu prosseguiria por cerca de 2 horas, pois, sim, Batman: Arkham Asylum é, na minha modesta opinião, o segundo melhor jogo do XBOX 360, sendo batido apenas pelo excelentíssimo Mass Effect – esse sim, o melhor jogo do XBOX 360. Esqueça Halo, esqueça Gears of War, esqueça Bioshock, esqueça Fallout – Batman quebra o queixo do Marcus Fenix, chuta através do visor do Master Chief e varre o chão com os servos do Fontaine. Por que? Ora, porque ao longo de suas mais de 12 horas, Batman: Arkham Asylum, chacoalha você como uma montanha russa, dando uma bofetada na cara de quem fala que herói de quadrinho não rende bons jogos e soltando uma brisa fresca de imaginação, muito bem vinda, na legião de super clones que são os jogos de hoje. Mas dizer isso é pouco, então vamos seguindo…
Vamos começar pelos gráficos. Ah! Os gráficos! Majestosos e sombrios, complexos e refinados, inteligentes e dinâmicos, os gráficos desse game, sustentados pela mais do que refinada engine Unreal 3 (a mesma de Gears of War), são uma versão 3D extremamente competente dos quadrinhos do herói. Batman é enorme, com movimentos fluídos e realistas, equipamentos e capa que se movimentam de forma independente. Seus inimigos, embora tenham recebido uma repaginada gráfica que pode ou não ser bem recebida pelo fãs, são igualmente vívidos, com movimentos realistas e um acabamento excelente. Aliás, tudo é excelente no departamento gráfico, os guardas e os lunáticos tem movimentos que fazem sentido e aumentam ainda mais a sensação de interação – com especial atenção aos capangas dos vilões que trazem marcas de seus patrões nos rostos ou corpos, dependendo do vilão(ã).
O cenário foi tratado com tanto carinho que é quase um protagonista da história. A ilha de Arkham ganhou cor e vida no game, com todos seus icônicos prédios retratados em mínimos detalhes, num estilo gótico extremamente poderoso e bem construído – o jogo de luz e sombra é sensacional e traz ainda mais prazer ao ato de pegar seus inimigos pelas costas enquanto murmura para si mesmo “Eu sou a noite!”.
O som é pleno e encorpado, criado de uma maneira rica e aumentando muito a experiência já que tudo, tudo mesmo nesse
game, cria som. Mova uma cadeira ou pise mais fortemente no chão depois de uma queda e seus inimigos seram alertados – o que provavelmente levará a morte dos reféns ou a perda de uma preciosa parte de sua barra de energia. A música é quase invisível… embora eu sei que esse comentário possa soar estranho… ficando ao fundo do game de uma forma que, se você não realmente parar para ouvi-la acabara atravessando o game sem nem mesmo percebê-la; a não ser quando a cuíca roncar! Quando sob ataque ou em momentos muito tensos (como as sessões de pesadelos – cortesia da droga do Dr. Crane) a música surge pesada, indo do rock a um eletro-punk, todos com um forte toque de cordas. As vezes, muito as vezes, quando você se sente especialmente macho (como logo depois de ter pego um upgrade que vai lhe permitir abrir um zilhão de lugares ou após derrotar Bane) você será recompensado com algo entre 30 a 90 segundos da música tema de Begins – que somada ao gráfico majestoso e a atmosfera fantástica cria momentos de pura magia. Sendo fã ou não!
Mas muitos outros games de super heróis, como Spider-Man 3 e X-Men 3, tinham gráficos majestosos, som excelente e foram considerados débeis, terríveis, arremedos de filmes que já eram ruins, desecrando a imagem dos personagens ali representados. Mas onde vários games, muitos mesmo, falharam miseravelmente, Batman: Arkham Asylum se levanta como um farol em meio as trevas da mediocridade. Por que?
Atmosfera e Verossimilhança
Primeiro Atmosfera! Mais do que criar um jogo onde você tenha medo do Zumbi/Monstro/Ninjas, um game deve criar em você a temeridade e a emoção de algo MUITO ANTES DELE ACONTECER. Pegue RE4 como um exemplo: Leon tem contato com dois ou três Ganados de cada vez, sendo aos poucos envolvido por uma atmosfera de mistério e violência… quando finalmente o clima já foi criado você é apresentado a uma CIDADE deles! 10 em 10 jogadores resolveram agir na surdina, passando por entre as casas, na tentativa de ficar o máximo possível de tempo escondido daquela infinidade de inimigos. A coisa fica ainda mais louca quando surge o cara da Serra-elétrica! O clima do game é tão bem trabalhado que mais da metade dos jogadores (e eu vi muitos deles usando o game, pois recebi o mesmo na semana de lançamento mundial) fogem como o diabo da cruz do cara-de-saco, sem nem mesmo tentar combatê-lo. E ainda mais legal, no intuito de manter a atmosfera, é que se você fugir, como num verdadeiro filme de terror, por mais do que alguns minutos, o game te “premia” terminando a perseguição, fortalecendo ainda mais a atmosfera e criando em você, desde a primeira meia hora do game a sensação que o criador, Shinji Mikami, queria: Um estranho numa terra hostil – sozinho, mal armado e mal informado.
Atmosfera é também o game imergir você no universo dele. Em Metal Gear Solid 3 você pode, a qualquer momento, ir de peito aberto para cima dos vilões. Mas tente isso! Vamos lá, eu o desafio! Conseguiu? Não? Foi divertido? Não? Por que? Porque o game todo foi desenhado, milimetricamente projetado para que a atmosfera o carregue e o leve para o stealth. Você está sozinho e desarmado em território de seu inimigo, levando apenas culhões e palavras chulas. As decisões suas no game atrapalham a atmosfera – você é forçado a um caminho constante, a uma maneira de agir e de interpretar aquele personagem, e qualquer desvio daquela regra é imediatamente punido pelo game. Isso mostra que mesmo um game caro e bem desenhado como Metal Gear Solid 3 peca no quesito atmosfera, uma vez que o game não lhe cria um clima onde você se comportará daquela maneira porque sente que foi o correto – ele o forçará no caminho que ELE deseja, colocando hoste após hoste de inimigos
enquanto você for idiota o suficiente para colocar a cabeça para fora d água. POR OUTRO LADO o bem menos famoso, mas muito muito muito mais bem criticado Half Life 2, e seus filhotes, criam um universo e lhe dão Gordon Freman, um Suma con Laude PhD em física que se vê, de repente, como o herói mitológico de um bando de sobreviventes em um universo pós invasão e conquista humana. E, com uma inteligência artificial de fazer inveja que controla a dificuldade do game de forma dinâmica (mais inimigos se a munição está sobrando, diferentes tomadas de decisões em diferentes locais, inimigos em posições diferentes pelo caminho a cada game), uma direção de arte sensacional e um cenário (tanto em escopo como em proporção e história) gigantesco Half Life 2 te entrega o controle (ou o mouse e o teclado) e gentilmente saí da sala – TE DEIXANDO LIVRE PARA AGIR COMO BEM ENTENDER. A história está lá, e você poderá participar dela da forma que achar melhor, enquanto uma sucessão de acontecimentos dinâmicos e personagens memoráveis criaram em você a sensação ímpar de ter medo daqueles monstros e amor pelos “amigos” que Freman faz pelo game. É o tipo de game que cria medo seguido por emoção, seguido por adrenalina, seguido por mais ação, seguido por emoção, seguido por medo. Mas não confie só em mim! Vá a casa de qualquer um que tenha Half Life 2 no Xbox ou Xbox 360 e peça para jogar o trecho chamado “We don´t go to Ravenholm”. Você vai entender o que é atmosfera.
Igualmente importante é a verossimilhança, a capacidade de um game se levar a sério para que você o leve a sério. Os guardas se escondem (como pessoas normais e reais, talvez, apenas talvez, planejamento como pegá-lo por trás) ou se jogam de peito aberto na frente de seus tiros (certos de que haverá mais e mais hordas para por um fim em você)? O lugares parecem realistas? Os aparelhos elétricos tem tomadas? A pintura tem falhas? As cadeiras caem? Os prédios tem banheiros? Tudo isso, em menor ou maior grau trabalham no sentido de tornar aquele game uma experiência de vida… algo incrível, em que você desligará sua descrença e mergulhará.
E Batman: AA tem ambos. Aos baldes. A Atmosfera é finamente construída deixando você controlar Batman pelos primeiros 5 minutos do game enquanto apenas segue o coringa através do gargantual prédio do Arkham, mergulhando em nível após nível de insanos e detentos de Black gate (recentemente transferidos de lá por causa de um incêndio) enquanto o Coringa vai deixando claro para você que foi ele que bolou tudo, do incêndio do Black Gate (para trazer os capangas dele para Arkham) a sua própria captura. Quando finalmente isso é colocado as vistas, ele toma conta da prisão, liberando Batman para uma aventura onde você já está habituado e amedrontado pelo prédio. Além disso Arkham é completamente fiel aos quadrinhos, com os prédios e até mesmo uma Bat Caverna (tirados diretamente dos arcos “Terra de Ninguém”, “O último Arkham” e “Arkham: Uma casa sã em uma terra de insanos” ) fielmente retratados – e este capricho se estende também aos personagens (redesenhados e modernizados por Alex Ross e a equipe de arte do game), seus estilos de falar, agir e pensar e também aos centenas de milhares de pequenos detalhes tirados diretamente dos quadrinhos para o game (você vai entender quando achar um corpo no necrotério e ler sua tarja no pé – ou quando entrar nos pesadelos induzidos pelo espantalho).
Arkham é também realista, no sentido de hiperbólico dos quadrinhos, onde Batman é foda, mas não inumano – você será atingido, apanhando de capangas e chefes e caindo em armadilhas, as vezes deixando de morrer apenas pela vontade de um de seus nêmeses – mostrando que mesmo com seu fantástico treinamento e equipamentos Bruce Wayne é apenas pouco melhor que seu colossal desafio. Além disso os ambientes tem fios, encanamentos, banheiros, áreas reformadas para receber visitas e clientes endinheirados (aonde constantes avisos de rádio falam sobre um Arkham moderna e que você pode pagar) assim como fossas, esgotos, áreas de manutenção, celas vagabundas e esquecidos e mansões góticas caindo aos pedaços, tudo somado para compor um cenário de fundo que não só tornará sua visita a ilha memorável mas também mostrará o nível de cuidado e carinho dados a esse jogo. Pelos deuses, o realismo chega ao fato do uniforme ir se danificando ao longo do jogo e a barba de Batman ficar desalinhada até o final do game.
Além disso tudo os controles do jogo são fáceis de aprender e difíceis de dominar, com um sistema de combate intuitivo e simples, mas que permite milhares de manobras (e como Batman reage de forma contextual aos inimigos, assim como Neo em “Path of Neo” as batalhas nunca contarão com os mesmo golpes ou mesmas seqüências), um sistema de progressão pelo mapa no melhor estilo Metroid/Castlevania (precisa achar um item para explodir uma parede/atravessar um buraco/escalar uma parede e prosseguir) com constantes upgrades melhora muito o aproveitamento do mapa e as seqüências especiais (como a que você combate/despista o Killer Croc em cima de jangadas em uma labirinto no subsolo do asilo ou a que combate um Giga-espantalho em um mundo de pesadelo) são simplesmente de tirar o fôlego.
Disse lá em cima e digo de novo: MENINOS E MENINAS NÃO PERCAM ESSE JOGO! Se você curte ação, esse game tem, se você curte adventure esse game tem, se você curte exploração, esse game tem, se você curte investigação, esse game tem. Tem para todo os gostos. É o segundo melhor game no sistema da Microsoft, nessa geração, e O MELHOR JOGO DE HEROÍS que joguei na vida toda! Se você for fã de Batman levante seu traseiro agora do PC e vá comprar esse game (seja no seu XBOX, PS3 ou PC)… ou melhor ainda, nem levante, encomende para o game chegar na sua casa ou faça um download no “DtD – Direct to Drive” ou via “Steam”; se você não for um fã do morcego, pegue esse jogo só pelas qualidades dele (mas tenho certeza que ao terminá-lo você estará fisgado pelo universo do personagem), mas não deixem de jogar. É, sem nenhuma dúvida, o game de 2009.
Até a próxima!







