Eu venho fazendo essa pergunta a anos: Por que você joga videogame? As respostas mais variadas me foram dadas, indo de pessoas que assumiam jogar para fugir dos problemas do mundo a pessoas que consideravam videogame como a mais elevada forma de arte.
Mas todas elas tinham um fator simples em comum. Todas as pessoas que jogavam videogame por períodos longos, horas, dias inteiros, o que quer que estivessem buscando lá recebiam um feedback que era sempre igual: diversão.
E diversão é um conceito extremamente aberto. O que é divertido para mim pode não ser para você – aliás, normalmente não é. Buscamos pessoas que se divirtam com o mesmo tipo de coisa que nós. Se divertir em conjunto fortalece os laços e nos abre portas para tentar localizar outros pontos em comunhão com os seres humanos que consideramos nossos amigos, familiares e parceiros. Os sociólogos chamam esse processo de “câmera de eco” quando queremos ver o que nos dá prazer sendo cobiçado e gerando prazer em outra pessoa.
E em um grupo social relativamente novo e que, até pouco tempo atrás, recebia uma quantidade razoável de “perseguição social”, como os gamers, isso ganha ainda mais valor. Gostamos de estar com outros jogadores, principalmente se eles dividem conosco o gosto por certas franquias. Agimos como o veículo perfeito de contaminação do meme: falamos por horas, se houver interesse, sobre nossos games favoritos, seus personagens e cenário, entrando em detalhes minuciosos de forma a trazer mais um gamer para a franquia que amamos. Como torcedores de futebol, mas numa escala bem mais civilizada, torcemos por nossas empresas, franquias e produtores favoritos, quase a exaustão (as vezes). Embora não sejamos mais do que consumidores de produtos eletrônicos, temos, com o tempo, um grau de ligação com as empresas que nos fornecem esses “produtos” tão extenso, que sofremos com cancelamento sobre os quais não temos controle e nos irritamos com adiamentos de produtos que, a nível de sobrevivência, não nos fariam falta.
E esse é o ponto central da diversão. Seja com Mario, Zelda, God of War ou Half Life 2, uma vez que você foi “mordido” é difícil deixá-los para trás. Somos levados por histórias simples ou complexas a mundos exóticos, que podem ser compostos de pedaços de terra flutuantes ou requintadas bases militares – somos envolvidos com aquilo. E conseguimos girar aquele mundo a nossa volta com o uso de um sistema de input que vem se tornando tão complexo, que é quase necessário um curso para usá-lo. Ou seja, derivamos nossa diversão do ato de movimentar um mundo ao redor de nosso avatar virtual. Seja salvando Hyrule ou destruindo os deuses do Olympo, libertando a Terra do julgo alienígena ou destruindo a rainha Locust, somos os protagonistas da ação – todos os holofotes estão voltados para nós. E se o controle responder certinho, no dia que você está inspirado… o mundo canta!
Então jogamos para nos divertir e nos divertimos jogando. Um processo cíclico que começa com o ato de que, seja o que esteja na tela, responde aos seus comandos. Não importa se em River Raid ou Crysis, completar a missão, salvar o mundo ou, porque não, descobrir que a princesa está em outro castelo, somos tomados pela gostosa sensação de fazer diferença naquele pequeno e virtual mundinho. E, diferente de todas as mídias do passado, as novas tecnologias tem dado cada vez mais campo de escolha sobre como tomar as decisões em um game. Vários finais, dependendo das escolhas do jogador; mundos persistentes modificados por seus atos; avatares virtuais que podem voltar dias depois a uma praia deserta e ainda ver seus passos na areia. Não estamos só na ponta receptiva desta mídia – criamos a história enquanto recebemos ela!
No fim do dia, com a energia desligada, é só um eletrodoméstico. Mas naquelas horas que conseguimos relaxar, quando estamos com as mãos suadas e o destino de um mundo inexistente e distante pesa nos nossos ombros – NADA, NUNCA vai gerar a mesma quantidade de prazer que o dever cumprido. Seja retro ou hiper moderno, conceitual ou simplista, mainstream ou indie, jogamos videogame em busca de uma diversão que só pode ser encontrada lá. E aceitamos de bom grato os, agora poucos, olhares de reprovação dos “pobres mortais” que não dividem conosco nosso hobbie. Afinal, como colocado pelo corredor X:
“You don´t sit in a car do drive… you´re driven to it!”
Obrigado a todos que dividem comigo esse incrível “vício”!
um poeta