Jogando: Last of Us

Eu jogo muito videogame – isso não é surpresa para ninguém. E, portanto, muitas experiências se tornam repetitivas para mim. Diferente da maior parte das pessoas eu não consigo jogar o mesmo shooter um milhão de vezes (sim… eu estou olhando para você Call of Duty), nem mesmo se colocarem veículos nele e um senhor escopo (desculpe Battlefield 3, eu juro que eu tentei). Com o tempo, e depois de tentar Fuse, Gears e Halo eu entendi um ponto.

Meu problema não é só com o Grinding constante da experiência multiplayer (o que me aborrecia até o tédio mortal em MMO Rpgs como WOW)… é com ao vazio contextual da experiência multiplayer. Por que eu estou fazendo aquilo? O que está em jogo aqui? Quem são os lados? O que eu melhoro ou pioro nesse conflito com meu ganho/derrota?

Ou seja: Não há uma história para segurar  o multiplayer… e isso sempre me irritou.

Talvez por isso eu goste tanto de Heist (da Valve), Left 4 Dead (também da Valve) e do modo “Spartan Ops” de Halo 4. Eles me dão uma história, um contexto, sobre o qual juntar meus amigos e me divertir. Mesmo assim o multiplayer nunca foi minha parte favorita de video games. E eu fui quase que abençoado, nesse mês de junho, com duas experiências que me lembraram o porque: Last of Us e Animal Crossing.

Last of Us não é só um jogo triplo A focado no single player (embora ele tenha um multiplayer bem divertido, ainda que desnecessário). Ele é uma história incrível, imensamente sombria, completamente fantástica e totalmente crível, com um foco imensamente humano e, para meu total deleite, com todas as explicações que um chato, como eu, exigiria. E você escolhe como jogar: quer recolher cada peça do quebra cabeça e saber exatamente como a infecção começou e o que houve, vá em frente; quer ir direto, atirando em todo mundo, sem dar nem duas olhadas no fantástico mundo criado pela Naughty Dog, você pode fazer isso também. O jogo é seu e  você usa como quiser.

Mas você vai parar para olhar – porque o universo de Last of Us é lindo! Lindo! Maravilhosamente bem feito  e  lindo de olhar o mundo dá uma ideia de  abandono tão nítida e extrema, tão forte e completa, que não dá nem para colocar em palavras. Imagine que o mundo seja abandonado, as pressas, e a natureza, ao curso de 30 anos, retome  tudo que um dia foi abandonado por ela – é exatamente isso. Sem falar que tudo é tão bem feito, tão belo, que dá uma maravilhosa sensação  de solidão no todo.

O som é simplesmente colossal. Uma obra de arte. Você vai se sentir empolgado com as fanfarras na hora da ação e vai andar nas pontas dos pés quando o som ficar mais lúgubre e obscuro.  E os clikers, os contaminados completamente tomados pelo fungo, que são cegos e se conduzem por sinalização sonora, fazendo um “click” agudo e ouvindo a reverberação dele – são ainda mais assustadores. Você vai ouvir os cliques muito tempo antes de ver um deles e, acredite em mim, ou você tem bolas de aço, cú de ferro ou vai ser borrar inteiro. E vai ficando pior a cada vez.

E se tudo isso ainda não te deixou encantando com o jogo. A jogabilidade vai fazê-lo. O game é frenético mas passivo, quase como um petit gateau: Uma parte é quente, outra é fria, as vezes é mais frio, as vezes é mais quente, as vezes vem combinado e as vezes vem tudo solto – e é sempre delicioso. A munição é super escassa, o sistema de combate é super realista (acredite… se você tentar encarar um grupo armado vai descobrir quão rápido Elie e Joel NÃO SÃO personagens de Uncharted) mas toda a dificuldade é deixado ao ser cargo: Seja cuidadoso e, principalmente, silencioso, e tudo fica bem mais tranquilo e fácil de lidar. O jogo não faz truques sujos, nem contra, nem a seu favor (diferente de MGS onde tem certas condições em que você obrigatoriamente fica visível e que os inimigos te esquecem quando você sai da sala) mas é justo. E os contaminados são realmente assustadores – uma mordida ou rasgo maior e já era: Game Over.

Eu não gosto muito do PS3 (aliás… não gosto muito da Sony embora estou pensando com carinho no PS4) mas este jogo é simplesmente fantástico – uma obra prima. E junto a Animal Crossing ele me lembrou uma coisa muito simples: Eu não jogo videogame para fazer pontos, ganhar conquistas ou repetir os mesmos atos de multi player de novo e de novo. Eu também não jogo por grinding, níveis ou coisas desse tipo. Eu jogo por história, por ambiente, por contexto – para ser outra pessoa em outro lugar e passar os apuro que ela passa, do conforto e da segurança do sofá da minha sala. Coçando a cabeça dos meus cachorros.

E se você é um jogador que gosta de boas história, jogos longos e de boas mecânicas de jogo e, assim como eu, está cansado da mesmice, de uma chance a Last of Us. Você não vai se desapontar.

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