Jogando: Tomb Raider

Haviam várias promessas nos últimos meses que simplesmente falharam em entregar o que estavam prometendo: DMC foi interessante, mas nem de perto teve o impacto de seus antecessores, Aliens: Colonial Marine foi um fiasco, um jogo sem brilho que falhou em agradar quase qualquer um e mesmo Paper Mario, normalmente uma power house de entretenimento, teve uma recepção apenas morna, por parte do mercado. E isso faz Tomb Raider tão impressionante; não só é um jogo verdadeiramente fantástico, mas ele consegue o que Tomb Raider Legends não conseguiu – dar um novo início verdadeiramente digno a uma das princesas do universo dos games.

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Lara Croft está de volta, mas está não é a Lara Uber peituda, cheia de one-liners, carregada de coragem e transbordando confiança por cada poro de sua pele acetinada (ademais a desgraçada nunca passar um creme, ficar dias vestindo a mesma coisa por dias e se jogar, bater, arrastar contra superfícies abrasivas, cortantes, etc…). Essa é uma Lara muito jovem, ingênua, muito bonita, mas bem mais proporcional, um pouco tímida e ainda pouco confiante. Mais do que ser a primeira aventura cronológica de Lara Croft, é a aventura que forma Lara Croft – é o ponto onde a jovem Lara deixa de ser um jovem atlética, com um fetiche por arqueologia, incapaz de ferir uma mosca, e passa a ser Lara Croft, caçadora de tumbas renomada, com um sorriso constante e passando fogo em quer for imbecil o suficiente para ficar em pé na frente dela.

E para colocar você para dentro do passeio de Lara a Crystal Dynamics, produtora canadense, não poupou esforços, sejam eles técnicos (como veremos adiante) ou de narrativa. O jogo é denso, tenso e imensamente bem escrito, com diálogos convincentes entregues por atores de vozes competentemente escolhidos, e uma atmosfera que engole o jogador e não solta mais. Além disso você vai se sentir muito mal na pele de Lara enquanto ela se fere, se rasga e se mutila (as cenas de morte, com ela sendo empalada, caindo e se quebrando toda, etc… são especialmente espetaculares, e eu garanto que elas vão arrancar algumas interjeições de nojo e assombro de quem estiver assistindo o jogo por cima do seu ombro ^_- ) na tentativa de permanecer viva por tempo suficiente para, talvez, ser salva.

A parte técnica pode ser resumida mais ou menos assim: É como Uncharted 3, só que mais longo e mais aberto. Se você, no entanto, só tem o 360 e o PC, e nunca colocou a mão na única razão para se ter um PS3 no universo, eis o que isso significa: Ação desenfreada e cinemática, com qualidade técnica impar e um nível de script do tipo que se dão Oscars (ou pelo menos deveriam).

Tecnicamente o game é um desbunde. Os gráficos são fora do comum, lindos, perfeitos, amplos, limpos, com texturas de altíssima qualidade e com uma animação ímpar. Os inimigos se movem com fluidez, você não tem flutuações de frame-rate, e todo mundo se molha, se raspa, roupas rasgão e objetos quebram. A física é reforçada por uma combinação ente Phsycks, Euforia e Havok enquanto o restante do game é feito na estupenda White engine da Square Enix. O resultado visual é assombroso. E o som não fica em nada atrás – é lindo! Muitíssimo bem conduzido e carregado de pequenas composições curtas que vão deixá-lo de cabelo em pé, com metais e sonoridade mais pesada nas cenas de ação. Acredite em mim, da escolha das vozes aos sons no campo, Tomb Raider vai fazer valer o dinheiro investido naquelas caixas de som na sua sala!

Tudo isso seria desperdiçado se o jogo não pudesse ser jogado ao final dele… e o controle é soberbo. Em segundos você estará fazendo Lara saltar de um ponto para o outro, se acostumará com distância de saltos e lidará, sem problemas com sequências de combate. O controle da heroína é muito semelhante ao de Nathan Drake, da série Uncharted, o que significa uma combinação do controle de cobertura de Gears com o sistema de mira de Wanted. É funcional, divertidíssimo  e não deixa a peteca cair por um segundo que seja.

Os mapas são abertos e cheios de áreas que você, originalmente, não tem acesso. Conforme Lara vai enfrentando as situações e agregando equipamento ao seu arsenal, suas habilidades melhoram e você consegue, em uma espécie de MetroiVania, retornar a certos trechos e acessar essas áreas. Além disso você tem 7 tumbas espalhadas pela ilha, cada uma delas com seu próprio sortimento de puzzles e jogos de alavanca que permitem que você, caso queira, desfrute de um pouco da velha fórmula de Tomb Raider, com uma mistura peculiar de “esmagamento de botões” e “momento cabeça”.

Em suma, Tomb Raider é o verdadeiro retorno, triunfal, da princesa Lara Croft a seu lugar de direito. É um jogo excelente, que merece figurar na coleção de todo mundo. É inteligente, bem escrito e extremamente bem feito. Só não é perfeito pela necessidade comercial de se incluir um multiplayer, fraco e sem inspiração, que será esquecido em poucos meses, e que eu, sem pestanejar, trocaria por mais umas duas horas de campanha, sem pensar duas vezes. Ainda assim, compre… é muito muito muito bom!

Bom divertimento!