Jogando: Alien: Isolation (PS4/XBOX One/PC) – Spoiler Free

Sim! Sim! Sim! Um jogo de Alien! Não Aliens!!! Não Alien 3!!! Não Alien VS Predator !!! Alien… o clássico de 79 de Ridley Scott que tornou a comandante Hellen Ripley uma heroína da ficção cientifica, finalmente ganhou um jogo diretamente baseado nele que tem a energia, a tenebrosidade e a tensão do filme original.

E tudo isso jogável! Sim… é realmente muito bom!

Alien: Isolation bebe profundamente no filme que lhe rendeu de base, e soma a atmosfera mais do que bem trabalhada do filme com dezenas de ideias testadas e aprovadas por jogos de terror e horror de sobrevivência por anos. Poucos itens? Check! Munição contada e pouco efetiva? Check! Corredores mal iluminados e utilização de luz e sombra como parte da atmosfera? Check! Inimigos extremamente poderosos e inumanos? Check! Sensação constante de ser caçado? Ultra mother fucking Check!

Desde o início o jogo te prende, utilizando um espaço vazio na franquia para se situar (Você joga com Amanda Ripley, filha da comandante Ripley original, a 15 anos em busca da mãe) e mostrando um enorme respeito ao material fonte. Tudo, absolutamente tudo, de vasos sanitários a computadores, de propagandas a máquinas de venda, remete ao que as pessoas na década de 70 achavam que seria o futuro – tudo é low fi, pixelado e dá a aparência de ter sido usado e remendado um milhão de vezes. A Sevastapol, a estação onde se passa a história, não é uma Enterprise, imaculadamente limpa e perfeitamente iluminada – longe disso; ela é um pesadelo inumano de metal, quase como uma catedral medonha de sombra flutuando eternamente em orbita de um gigante gasoso.

Assim como nos brilhantes Arkham (Asylum, City, etc…) atmosfera é o coração do jogo – mas aqui você não o valoroso Bruce Wayne, com seus golpes e seus equipamentos. Aqui você é uma engenheira que tem que fazer o que for necessário para sobreviver, criando itens e mais itens com o que consegue pegar em cada lugar, sabendo que se você entrar em combate você está morta. E mesmo as coisas que você consegue montar, como granadas de luz e P.E.M. Geram tanto risco para você quanto para os inimigos. Ripley é imensamente mais fraca que seus adversários e isso só torna a experiência de atravessar cada corredor ainda mais terrível. Você vai sentir um nó no estomago quando tiver que sair de um lugar seguro para uma região que não conhece da estação e vai pular na cadeira, com as mãos completamente suadas, toda vez que ouvir o mínimo som estranho. É encantador e completamente diferente de qualquer experiência de terror feita na nova geração de videogames até agora – Alien: Isolation é muito menos Resident Evil e muito mais P.T..

Os controles traduzem muito bem a dificuldade de Ripley – não são difíceis de usar ou de entender, e respondem no ato, mas foram construídos para deixar claro para o jogador que Ripley não é um soldado. Ela não salta dois metros e dá um chute ou mesmo lida com uma pistola como se a mesma não tivesse recuo. E não só o controle de Ripley em si trabalha “contra” o jogador, mas também o controle do universo; Abrir uma porta trancada exige utilizar ferramentas (se a tranca for física) ou decodificadores (se for lógica) – ambos os meios tomam tempo e te deixam imensamente vulnerável, além de resultarem em sons que podem chamar a atenção de coisas que você quer evitar. Salvar o jogo também leva cerca de 5 a 10 segundos, período de tempo em que você também está vulnerável (e salvar faz barulho). A atmosfera nunca deixa a jogabilidade, e por derivação o controle, tirarem você da situação de sub-capacidade onde você está.

É claro que os gráficos de Isolation também ajudam na criação da atmosfera – mas não são, nem de longe, tão bons quanto eu esperava que fossem. Em todas as plataformas, fora o PC, o jogo roda a 30 FPS e com um filtro de cinema antigo (estilo VHS) aplicado sobre os gráficos. Você pode remover o filtro, mas os gráficos, que já não são tão impressionantes com ele, seja rodando a 720P ou a 1080P, ficam ainda menos impressionantes crus: As texturas são lavadas e desinteressantes em muitas superfícies e os outros seres humanos na estação se movem sem fluidez ou naturalidade (acho que tentaram utilizar os mesmo assets de animação dos androides nos humanos, e acelerar umas três vezes a animação, e o resultado final ficou… na falta de uma palavra melhor… esquisito). Não vai estragar sua diversão, e considerando quão soberbo é o level design e o motor gráfico de luz e sombra, você vai estar realmente preocupado com o Alien, não com um pop up de textura aqui ou ali.

Se os gráficos não foram tudo aquilo, pode ter certeza que o som vai acabar com a sua raça. É sério… o som de Alien: Isolation, feito a partir dos tapes mestres do filme original de 79, é um show a parte. E um daqueles shows caros, que você vai uma vez na vida e uma na morte, com um show pirotécnico no final e acompanhado pelo grande amor da sua vida – É BOM NESSE NÍVEL!!! O som é atmosférico para caralho e extremamente bem feito, indo das vozes dos androides, extremamente low fi e absurdamente horrorosas e sem vida, as vozes extremamente bem escolhidas dos personagens. Além disso o som ambiente é multidirecional e auxilia no entendimento da situação; você consegue saber se o alien está vindo de trás ou da frente, da esquerda dou da direita, se está entrando ou saindo de um duto, passando por uma fresta, etc… Para vocês terem uma ideia de quão bom o som é: ele me fez gastar uma quantidade razoável de grana num fone de ouvido 7.1 Pulse Elite da Sony só para conseguir ouvir em toda a grandeza! É bom assim!

No frigir dos ovos (essa é velha hein?!) Alien: Isolation é excelente. É um sopro de ar fresco em um gênero extremamente batido feito de uma forma completamente fantástica. E eu fico feliz que videogames não possam utilizar sopros de ar fresco no meu cangote enquanto eu jogo, porque com as luzes apagadas, com um fone de ouvido que traga toda a experiência sonora para os meus ouvidos e numa TV de 42 polegadas, eu cheguei muito, muito, muito, MUITO perto de infartar em várias situações. Super mega hiper ultra recomendado.

Jogando: Aliens: Colonial Marines

A crítica profissional tem sido imensamente dura com Aliens: Colonial Marines, o novo jogo da softhouse GearBox, responsável por joias como Borderlands (e seu imensamente viciante sistema de jogo diablo-on-fps) e lixos como Duke Nuken Forever (embora nem toda a culpa seja deles, nesse caso): O jogo foi chamado de antiquado, bugado, feio e feito as pressas. Uma parte dessas afirmações é verdade, mas esse não é um jogo ruim.

E o problema para isso começa lá no material fonte.

Aliens, ou Alien: O Resgate, como é conhecido no Brasil, é um filme fantástico entregue ao mundo em 1986 pelas mãos do fantástico James “Olha mãe eu fiz Avatar” Cameron. É uma das mais competentes e bem feitas obras de ficção científica de todos os tempos e a continuação de um dos filmes mais badalados pela comunidade Sci Fi, o sacro-santo Alien, de Ridley Scott. O filme é tão incrível e conhecido que suas frases, equipamentos, sons e atmosfera, além de conceitos de aplicação de terror psicológico e escassez de recursos, foram utilizados e reutilizados ao longo de anos, em centenas de formas, ao longo de dezenas de mídias. Sim, mesmo que você nunca tenha assistido Aliens, se você jogou Halo (principalmente o primeiro), Resident Evil ou algum filme onde um grupo de civis + soldados tem que se virar para sobreviver a um monstro, e gostou, agradeça a essa mega sucesso da década de 80.

E esse é parte do problema. O material fonte, que a Gearbox teve acesso livremente e utilizou de maneira magistral, é TÃO bom, que ele pede por níveis quase impossíveis de qualidade. Você já viu Aliens, já viu centenas de pessoas melhorando cenas de Aliens, então voltar a ter simplesmente… Aliens, sem o efeito nostalgia, é uma retomada meio dura.

E esse é o principal ponto deste jogo: Você gosta de Aliens? Lembra de algumas das frases? Se lembra dos principais trechos do filme? Lembra o primeiro nome do Ricks? Ou do Androide?  Então você, assim como eu, vai gostar desse jogo. Agora, se a resposta a essas perguntas for não, infelizmente você não terá um tempo tão bom com Aliens: Colonial Marines. Porque, essencialmente, esse é uma continuação de Aliens que tem 6 a 7 horas de duração e acontece de estar em um formato interativo.

Tudo no jogo é voltado para te contar essa história… e é uma boa história. Não é excelente. Não é a história que vai mudar sua percepção da franquia. Mas é uma história interessante e bem ambientada em um universo relativamente charmoso. E se for uma história que você quer o jogo vai lhe divertir. O duro é que, como dizem, o problema são os outros… os outros itens que compõe o jogo!

E esses problemas começam nos gráficos. No PC os gráficos tem quebras feias em vários pontos, usam texturas lavadas ou mais antigas em outras e tem muitos slowdowns. No Xbox 360/Ps3 a situação fica ainda pior – a velocidade cai para baixo dos 30 frames toda vez que tem mais de 4 ou 5 inimigos na tela, as texturas demoram para carregar (um tempo bem longo) e a animação dos personagens é quebrada e estranha. Você verá pedaços de inimigos e colegas atravessando paredes, descobrirá que não consegue terminar determinados trechos devido a inimigos ou itens que não surgiram completamente ou surgiram dentro de objetos, etc… E se a parte gráfica é uma bagunça, a inteligência artificial vai acabar com uma boa parte da sua diversão – os Xenos se comportam como esquilos, saltando em frente aos seus tiros sem se preocuparem com usar o ambiente (como faziam nos filmes) ou em criar estratégias.E se os Xenos, que são animais, se comportam assim, os membros da equipe de segurança da Weiland Yutani conseguem ser ainda piores – em vez de se comportarem como soldados de elite altamente treinados, eles se comportam como micos de circo vestindo Kevlar. Um deles fez uma pirueta, a la Neo e Trinity, saindo da cobertura, atirando com uma das mãos, enquanto outro, portanto um lança chamas, continuou caminhando na minha direção enquanto era, literalmente, cortado por fogo da minha Smart Gun. Quem a Weiland contrata? Suicidas?

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Some a isso vários glitches, como portas que não abrem, encontros que não carregam (deixando você andando a esmo no mapa) e problemas graves de detecção de colisão,  um sistema de armas advindo diretamente de 1990, com seu personagem carregando consigo um carrinho de mão de armas (como na época de Doom e Duke Nuken 3D) e você começa a perceber que a Gearbox, aparentemente, não teve tempo para terminar o game. Graças aos céus o som é magistral e capta maravilhosamente a atmosfera proposta… mas mesmo assim, ficamos no 3X2. E essa é uma condição bem complicada para um jogo que custa R$ 180,00.

Em suma, Aliens: Colonial Marines, vale uma locação. Se você for muito fã da franquia Alien, e muito, muito, muito mesmo, fã do segundo filme, talvez valha uma compra. Mas, de resto, é um jogo cinemático com uma boa história que, infelizmente, não entrega nem metade do que prometeu com Trailers e entrevistas.

Como diziam o Hudson “Game Over Man, Game Over…”